"...mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia."
2 Coríntios 4:16
Todos os dias eu me perco, tente entender. Cada vez que desperto,
abandono o que era no ontem e renasço, inteira e partida. Cada olhar no
espelho é um desafio à minha sanidade, propondo que eu reconheça o
estranho rosto que me confronta.
Não, não é loucura. O nome disso é vida, vida vivida, vida sentida,
vida marcada, amada, sofrida. Não posso dizer quem sou quando
simplesmente ainda não deixei de ser. A fórmula da bula que me compõe
não encontra jeito para remediar.
Eu já quis ser tudo na vida. Já fui nada, sendo mil. Mas a minha grande
verdade matinal é sempre a dúvida, o olhar que retrocede as minhas
lembranças e forma a autenticidade do que acredito.
Não posso prometer que estarei aqui amanhã, sendo que mal recordo o que
pensava de você ontem. Não posso conjugar o futuro, pois gosto de
tropeçar na mutável possibilidade de simplesmente mudar de ideia. O que
me resta é saborear a interrogação que me cobre a pele, na busca
incessante do que me responda.
Todos os dias eu me perco, mas conforme as horas passam, provo do
amargo ser que sou e componho mais um dia de ideias. E assim, me acho
entre as perguntas inacabáveis e descanso na humanidade crua da
dependência divina. Tudo o que posso é ser, simplesmente, sem
definição, para que só assim me explique.
E quanto a você, basta apenas me reencontrar todos os dias para que em cada um deles eu decida ficar.
Karine Mattos
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