quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Eu sei...


"...
Meu espelho é sempre a minha última fotografia, por ela vejo o que mudar ou não em mim.

Percebi que eu tinha os olhos tristes, apaixonados, perdidos. Percebi isso ao rever velhas fotografias que resgatei de dentro de caixas. Mas, eu nunca fui triste, eu tinha tristezas, apenas isso. Apesar das minhas dificuldades, sou ótima para saber de mim, mesmo quando finjo o contrário. Pois então, eu sei muito bem o que quero, eu sempre soube. Ou melhor, eu sabia.

Hoje em dia, qualquer vento pode me fazer cócegas e muitos dos meus princípios mudaram de endereço, perderam-se nas decepções da vida. Para que tanta definição de si mesmo? De mim mesma? Para merda nenhuma, que me perdoem o bom uso dessa palavra! Para que a minha eterna tabuada, pregada na barra da minha saia para eu colar de vez em quando e fingir que sou mestre?

Eu sei quem sou eu, sei, sim. Hoje, eu sei o que me faz feliz e que não faz. E só. Basta! Não preciso mais do que isso. Outro dia, conheci um menino que me fazia sorrir, conheci três, conheci dez! Entretanto, todos, em um determinado ponto, pararam de me fazer sorrir e, eu, muito tonta, continuei sorrindo para eles e traçando mapas para nós, delirando... Revejo esses meninos, revejo-me e nada mais encontro porque eu fui ali, saí, larguei o que eu carregava em cantos quaisquer, desfiz as magias tolas e fui ser feliz. Simples. Minha felicidade é o meu corpo, que cuido; minha alma que preservo, e minha inteligência, que me salva.

Eu não sei mais para onde estou indo, o GPS pifou. O mapa? Eu nunca soube mesmo para que lado posicioná-lo. A agenda de telefones? Demoro um ano para atualizá-la, estou sempre um ano atrasada, enquanto todo mundo corre. E todo mundo se espanta, ainda tenho agenda de papel. Ainda tenho tempo de me perder porque parei de dar importância ao traço do compasso. Nunca fui boa mesmo em aritmética, nem em ritmo e equilíbrio, não aprendi a tocar piano e a andar de bicicleta. Só acertei o alvo quando gritei 'este, eu quero', e isso ocorreu poucas vezes. Durmo antes da oração acabar, ladainhas são soníferas... Minha reza é apenas uma conversa, às vezes, íntima, às vezes, nem tanto. Sempre houve em mim um quê de distração pelas coisas, desejos e pessoas... o que eu sempre soube fazer foi levantar voo; me dê uma razoável tranquilidade e eu já não estou mais onde você pensa que estou.

É que todo mundo corre porque já quer chegar. Eu estou sempre indo."
 
Adaptação do texto de Suzana Guimarães

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Lembranças que me inspiram a fazer ‘xis’

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Completei um pouco mais de três décadas e fiquei pensando em tudo que me fez e faz feliz... é como se eu fizesse uma grande retrospectiva da minha vida. Senti um pouco de nostalgia, mas acima de tudo um aconchego no coração por tudo que já vivi, pelo que vivo e por tudo que ainda hei de viver. Mesmo assim, selecionei 30 lembranças que me inspiram a fazer ‘xis’ fora da foto:


ü      Fazer compras com meu avô e poder escolher o doce que eu quisesse.

ü      Chegar em casa, após longo dia de trabalho e encontrar o café da tarde na mesa com direito a bolinhos de chuva.

ü      Encontrar dinheiro no bolso de calça guardada.

ü      Furtar pitangas na vizinha e depois pedir pitangas como se eu ainda não as tivesse comido.

ü      Dar o primeiro beijo no homem, que um dia achei, que era o homem da minha vida.

ü      Ser elogiada pela família por ser inteligente e a primeira da turma, mesmo eu achando que não era.

ü      Descer de bicicleta a Av. central da Divisa (Santos/São Vicente) sem apelar para os freios.

ü      Namorar em casa escondida, na escada ou ainda atrás da porta.

ü      Brincar de bexiguinha (cheias de água) no carnaval.

ü      Passar o dia inteiro na praia e ao voltar pra casa ser surpreendida pela chuva de verão.

ü      Dançar e pular carnaval até não mais sentir os pés.

ü      Ser requisitado por vários colegas da escola para apresentar trabalho em grupo.

ü      Comer brigadeiro raspando o que ficou grudado no fundo da panela.

ü      Adorar um livro, percorrer a madrugada lendo e ir contando as páginas que faltam para o final.

ü      Pedir desculpa aos pais, com direito a abraço de rodoviária.

ü      Treinar a assinatura para a carteira de identidade.

ü      Preencher um cheque de cinco dígitos.

ü      Ter festa de aniversário surpresa, lotada de gente que você realmente gosta.

ü      Conseguir aprovação no vestibular e ler seu nome no jornal.

ü      Aprender a dirigir escondido com a tia.

ü      Alugar uma casa só pra mim.

ü      Cozinhar para alguém, e esperar ansiosamente a reação.

ü      Vestir roupa nova da cabeça aos pés.

ü      Andar de bicicleta na orla da praia e não se cansar de olhar o mar.

ü      Achar um posto bem na hora que estava acabando a reserva do combustível.

ü      Tomar um porre e pedir para os amigos descreverem nossas façanhas no dia seguinte.

ü      Adormecer no peito do meu amor.

ü      Mentir a idade e achar graça quando falam que eu não pareço ter a idade que tenho.

ü      Viajar sozinha, sem saber o caminho e chegar como se você estivesse o tempo todo sendo guiada.

ü      Sentir o carinho com que as pessoas me abraçam.

ü      Conhecer pessoas novas em qualquer lugar: na fila do banco, no caixa do supermercado e sentir no fundo do coração uma grande ligação universal.

ü      Ser adicionado na rede social por alguém que você admira.



Cris Santos é jornalista, blogueira, intensa e administradora da página 'Melhor de mim' no Facebook.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cadê meus objetos ?

Por alguns anos achei que era só eu que perdia determinados objetos dentro da minha própria casa e nao entendia como isso acontecia e me questionava:, erder dentro de casa!?

Depois de conversar com algumas pessoas, percebi que não era a única, rs.
E, nesta semana li um poema do Teatro Mágico (que já divulguei) e um texto de Carpinejar sobre o mesmo assunto, que diz assim:
"Deve existir um elo perdido, uma terceira dimensão para onde vão alguns objetos.
Não existe nenhuma explicação razoável para certo sumiço dentro de casa.
Antes pensava que as coisas sumiam para minha mãe me ensinar a rezar a Salve-Rainha, mas já tinha decorado e elas continuavam evaporando.
Faço a lista dos utensílios-fantasmas de nossa vida.
Meias: as meias jamais voltam da máquina de lavar. A máquina de lavar é uma indústria do divórcio. Os pares entram casados e brigam lá dentro. Perdem-se na espuma, ficam tontos, exageram no OMO, no amaciante, sei lá o que acontece. No fim, nunca teremos as meias iguais. Nunca é o casal original de meias. Chega um ponto em que existem vinte meias viúvas na gaveta. Como? Será que existe um alçapão na máquina? O Triângulo de Bermudas deveria se chamar Triângulo das Meias.
Tampas de panelas: como algo de metal e de aço pode não ser encontrado? As panelas sempre estão com uma tampa emprestada de outra panela. A pressa de fazer comida aumenta o pânico. Mexemos debaixo da pia e nem sinal dos conjuntos originais. É um swing muito irritante.
Canetas e tampas de caneta: Um mistério. É colocar o nome na caneta ou uma corrente que ela foge. Odeia donos possessivos.
Isqueiros: e pior que são caros. Eles servem apenas para uma carteira. Deveria ser vendido dentro do próprio cigarro. Não duram em nossas mãos. São como borboletas, vivem somente 24h.
Palhetas: todo músico sabe que uma palheta sozinha não segura nenhum show. Palheta avulsa é ignorada, desprezada como palito de picolé. Ela some, escapa no forro do estojo, da calça, da carteira. Mais fácil adquirir outra do que procurá-la.
Tarraxas: elas nem produzem barulho, não são educadas. Caem sem avisar. São de valor ridículo, mas provocam um baita estrago com a fuga dos brincos.
Guarda-chuva: cada pessoa no mundo terá uma média de 30 guarda-chuvas até sua morte, dados da Organização das Nações Unidas. "
Eu ainda incluo nesta lista:
- Prendedores de cabelos (piranhas, elásticos, grampos, presilhas etc etc);
- Documentos originais;
- Chaves;
- Canhoto/comprovante de alguma compra;
- Benjamin de tomada;
- Brincos, se não forem os dois, um com certeza sempre some;
- Lápis e borracha;
- Batom;
- Tesoura;
- Fronha: o outro par da fronha, cadê? Para mim, se apaixonou pela meia e fugiram!
- Tampa de pote plástico ou o pote da tampa;
- Pen drive, cartão de memória;
- Par do chinelo, quando resolvo usar aquele chinelo, não encontro seu par. Incrível!
- CD, cadê meu CD?

Sem falar das inúmeras vezes que procuramos algo que está na nossa frente e  não conseguimos achar. Bem, talvez isso não se trate só de 'coisinhas', às vezes até de pessoas, mas aí é tema de outro texto.
Cristiane Santos
P.S.: 'Solonguinho, Solonguinho' me ajuda achar o documento da moto, que eu dô 3 pulinhos!


O que se perde enquanto os olhos piscam

O Que Se Perde Enquanto Os Olhos Piscam
O Teatro Mágico

Pronde vai?
Toda tampa de caneta?
Todo recibo de estacionamento?
Todo documento original?
Isqueiro, caderneta,
A camiseta com aquele sinal...
Pronde vai... toda palheta?
Pronde foi... todo nosso carnaval?
Pronde vai?
Todo abridor de lata?
Toda carteira de habilitação?
Recado não dado, centavo, cadeado?
Todo guarda-chuva!
Pra fuga pro temporal!
Pronde vai... o achado, o perdido?
Eu não sei, veja bem...
Não me leve a mal...
Pronde vai?
Todo outro pé de meia,
Carteira, brinco e aparelho dental?
Pronde vai... toda diadema?
Recibo, receita e o nosso enredo inicial?
Pronde vai?
Toalha de acampamento,
Presilha, grampo, batom de cacau
Elástico de cabelo
Lápis, óculos, clips, lente de contato?
A nossa má memória!
A denúncia no jornal?
Pronde vai... aliança, chaveiro, chave, chinelo?
E o controle pra trocar canal
Pronde vai?
O solo que não foi escrito?
Labareda nesse labirinto,
O instinto, o reflexo, sem seguro
O coro do socorro! o lançamento oficial!
Pronde vai... a culpa da cópia?
Pronde foi... a versão original!?
Pronde vai?
A bala que se disparou?
O indício do vício que disseminou
A busca do corpo por algo vital?
A firmação do pulso! o discurso radical!
O troco em moeda... a lição da queda
Pronde foi... nosso humor e moral?
Pronde vai? todo nosso desalento
Morre brisa nasce vendaval
Pronde vai a reza vencida pelo sono
Ela vale? me fale... me de um sinal!

São Longuinho
Me fale me de um sinal!

Pra onde foi?
O canhoto, benjamim de tomada
Simpleza, prudência, consideração?
A clareza, autenticidade, compaixão, certeza, a urgência e o perdão?
Carregador de bateria,
O extrato, a ponta, a conta nova, a cola e a extensão?
O estímulo,o exemplo, a voz dissonante...
A coragem do meu coração!

São Longuinho, são Longuinho
Me fale me dê um sinal!
São Longuinho, são Longuinho
Pra onde foi?
A coragem do meu coração!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A humanidade

Quando você conseguir superar
graves problemas de relacionamentos,
não se detenha na lembrança dos momentos difíceis,
mas na alegria de haver atravessado
mais essa prova em sua vida.

Quando sair de um longo tratamento de saúde,
não pense no sofrimento
que foi necessário enfrentar,
mas na bênção de Deus
que permitiu a cura.

Leve na sua memória, para o resto da vida,
as coisas boas que surgiram nas dificuldades.
Elas serão uma prova de sua capacidade,
e lhe darão confiança diante de qualquer obstáculo.

Uns queriam um emprego melhor;
outros, só um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta;
outros, só uma refeição.
Uns queriam uma vida mais amena;
outros, apenas viver.
Uns queriam pais mais esclarecidos;
outros, ter pais.
Uns queriam ter olhos claros;
outros, enxergar.
Uns queriam ter voz bonita;
outros, falar.
Uns queriam silêncio;
outros, ouvir.
Uns queriam sapato novo;
outros, ter pés.
Uns queriam um carro;
outros, andar.
Uns queriam o supérfluo;
outros, apenas o necessário.
 
Há dois tipos de sabedoria:  a inferior e a superior.
A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe
e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que não sabe.
Tenha a sabedoria superior.
 
Seja um eterno aprendiz na escola da vida.
A sabedoria superior tolera;
a inferior, julga;
a superior, alivia;
a inferior, culpa;
a superior, perdoa; a inferior, condena.
Tem coisas que o coração só fala
para quem sabe escutar!

Chico Chavier

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A hora do cansaço


As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
Dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
Numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto acre
Na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade