terça-feira, 23 de outubro de 2012

Amores



É que uma vez me disseram que só amávamos uma vez na vida. E isso ficou martelando em minha cabeça como uma tentativa de explicar o que em minha vida foi amor e o que foi entusiasmo. Como em um talkshow em que eu precisava eliminar todos aqueles que julguei que haviam sido amores, mas não foram. Gente criando regra pra gente.

A primeira vez que eu amei, não precisei de nada mais que um olhar na direção certa. Tomado por aquela beleza bondosa para meus olhos, mas cruel para minhas mãos. Eu achava que meu coração poderia parar do nada enquanto ele mascava chicletes. Ele não precisou ser gentil, nem enviar flores. Isso só intensificou. Porque no primeiro segundo que o vi eu já o amei da maneira mais adolescente que alguém poderia amar. Em que a felicidade se resumia a ter um sorriso retornado e era imperdoável não escolher sentar ao meu lado. Eu dediquei alguns meses tentando conquista-lo, como se fosse possível ele me amar na facilidade em que eu o amei. Até que entendi que ele era tudo para mim e eu nunca seria nada para ele. Porque o amor já havia feito suas escolhas.

A segunda vez que eu amei, eu precisei beijar. Não que não fosse bonito, pelo contrário, mas belezas já não me causavam mais que simples atração. Durante o primeiro beijo eu precisei abrir os olhos para ter certeza que era possível mesmo sentir tanto prazer somente em beijar alguém. A companhia dele me fazia tão bem, que os anos de namoro me deram conforto, pois mesmo se eu nunca fosse bem sucedida profissionalmente, mesmo que a maior parte dos meus sonhos fossem adiados, eu sabia que havia alcançado o máximo do sucesso na vida amorosa. Numa dependência exagerada, que qualquer lugar que ele não estava, tornava-se monótono e sem graça. Pelo medo que passei em ter da morte, pelo medo que passei em ter a perder, não tinha como duvidar que não fosse amor. Mas como o melhor dos nossos filmes, a última cena chegou. E foi preciso dizer adeus.

A terceira vez que eu amei, eu precisei perder. Ele era carinhoso demais. Era diferente. Era cuidadoso, saia bem em fotos e me trazia um presente a cada encontro. Mas o amor já me desagradava proporcionalmente na intensidade que ele se dedicava a mim e eu não conseguia gostar de alguém assim. Era complicado estar do outro lado da história e por não saber o que fazer, abri as mãos e deixei que partisse. Foi quando passou um mês inteiro e não recebi nenhum telefonema, foi quando ele começou a ligar para uma amiga minha. Foi aí que eu percebi que já não éramos mais os mesmos. O eu idealizado e o ele apaixonado, já não existiam mais.

O quarto amor chegou e desta vez eu precisei conviver com o amor a maior parte do tempo para saber o que era um amor maduro, calmo. Éramos muito diferentes, ideologias, ritmo, ambições; éramos amigos de anos. E foi no meu ritmo que tudo aconteceu, antes de namorarmos fizemos uma viagem de sete dias juntos, depois fomos morar juntos e depois de nove meses casamos. E assim, eu o amo. Eu o amo mesmo quando o cabeleireiro erra no corte de cabelo dele. E ele não me ama menos. Eu o amo porque ele não tem a palavra terminar como idéia inicial se um dos dois faz algo que desagrade. Para ele eu posso mostrar os meus filmes favoritos e ele assistirá mesmo que seja para dizer que não gostou. E vai compreender o meu temperamento sem longas explicações. Porque este amor não é fruto de uma ação, mas da soma de todas elas.

Tudo isso para falar que uma vez me disseram que a gente só ama uma vez na vida. Mas só se a gente permitir. Eu amei quatro vezes. Sim. Eu sei. A vida endurece a gente. A gente nasce manteiga e morre pedra. Mas como eu disse, só se a gente permitir. Tem gente que depois que sofre, não se entrega de novo, enquanto tem gente que acha que só porque não deu certo é que não foi amor. Tenho orgulho de ser manteiga e ainda amar.

Eu amei diversas vezes na minha vida, com maturidade diferente, em formas diferentes, por motivos diferentes. E por mais que contadas separadamente pareçam sobre sentimentos diferentes, todas elas são histórias de amor.

Cristiane Santos
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p.s: Baseado em um texto de Vinícius D'Ávila

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