É que uma vez me disseram que só
amávamos uma vez na vida. E isso ficou martelando em minha cabeça como uma
tentativa de explicar o que em minha vida foi amor e o que foi entusiasmo. Como
em um talkshow em que eu precisava eliminar todos aqueles que julguei que
haviam sido amores, mas não foram. Gente criando regra pra gente.
A primeira vez que eu amei, não
precisei de nada mais que um olhar na direção certa. Tomado por aquela beleza
bondosa para meus olhos, mas cruel para minhas mãos. Eu achava que meu coração
poderia parar do nada enquanto ele mascava chicletes. Ele não precisou ser
gentil, nem enviar flores. Isso só intensificou. Porque no primeiro segundo que
o vi eu já o amei da maneira mais adolescente que alguém poderia amar. Em que a
felicidade se resumia a ter um sorriso retornado e era imperdoável não escolher
sentar ao meu lado. Eu dediquei alguns meses tentando conquista-lo, como se
fosse possível ele me amar na facilidade em que eu o amei. Até que entendi que
ele era tudo para mim e eu nunca seria nada para ele. Porque o amor já havia
feito suas escolhas.
A segunda vez que eu amei, eu
precisei beijar. Não que não fosse bonito, pelo contrário, mas belezas já não
me causavam mais que simples atração. Durante o primeiro beijo eu precisei
abrir os olhos para ter certeza que era possível mesmo sentir tanto prazer
somente em beijar alguém. A companhia dele me fazia tão bem, que os anos de
namoro me deram conforto, pois mesmo se eu nunca fosse bem sucedida
profissionalmente, mesmo que a maior parte dos meus sonhos fossem adiados, eu
sabia que havia alcançado o máximo do sucesso na vida amorosa. Numa dependência
exagerada, que qualquer lugar que ele não estava, tornava-se monótono e sem
graça. Pelo medo que passei em ter da morte, pelo medo que passei em ter a
perder, não tinha como duvidar que não fosse amor. Mas como o melhor dos
nossos filmes, a última cena chegou. E foi preciso dizer adeus.
A terceira vez que eu amei, eu
precisei perder. Ele era carinhoso demais. Era diferente. Era cuidadoso, saia
bem em fotos e me trazia um presente a cada encontro. Mas o amor já me desagradava
proporcionalmente na intensidade que ele se dedicava a mim e eu não conseguia
gostar de alguém assim. Era complicado estar do outro lado da história e por
não saber o que fazer, abri as mãos e deixei que partisse. Foi quando passou um
mês inteiro e não recebi nenhum telefonema, foi quando ele começou a ligar para
uma amiga minha. Foi aí que eu percebi que já não éramos mais os mesmos. O eu
idealizado e o ele apaixonado, já não existiam mais.
O quarto amor chegou e desta vez
eu precisei conviver com o amor a maior parte do tempo para saber o que era um
amor maduro, calmo. Éramos muito diferentes, ideologias, ritmo, ambições;
éramos amigos de anos. E foi no meu ritmo que tudo aconteceu, antes de
namorarmos fizemos uma viagem de sete dias juntos, depois fomos morar juntos e
depois de nove meses casamos. E assim, eu o amo. Eu o amo mesmo quando o
cabeleireiro erra no corte de cabelo dele. E ele não me ama menos. Eu o amo porque
ele não tem a palavra terminar como idéia inicial se um dos dois faz algo que
desagrade. Para ele eu posso mostrar os meus filmes favoritos e ele assistirá
mesmo que seja para dizer que não gostou. E vai compreender o meu temperamento
sem longas explicações. Porque este amor não é fruto de uma ação, mas da soma
de todas elas.
Tudo isso para falar que uma vez
me disseram que a gente só ama uma vez na vida. Mas só se a gente permitir. Eu
amei quatro vezes. Sim. Eu sei. A vida endurece a gente. A gente
nasce manteiga e morre pedra. Mas como eu disse, só se a gente
permitir. Tem gente que depois que sofre, não se entrega de novo, enquanto
tem gente que acha que só porque não deu certo é que não foi amor. Tenho
orgulho de ser manteiga e ainda amar.
Eu amei diversas vezes na minha
vida, com maturidade diferente, em formas diferentes, por motivos diferentes. E
por mais que contadas separadamente pareçam sobre sentimentos diferentes, todas
elas são histórias de amor.
Cristiane Santos
Assinem: facebook.com/cricaps
p.s: Baseado em um texto de Vinícius
D'Ávila
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