terça-feira, 9 de outubro de 2012

Por que dói tanto ?


O sentimento de perda é uma experiência que todos nós passaremos pelo menos uma vez na vida. Mesmo comum, ainda sim é um processo difícil porque na maioria das vezes não sabemos como administrar os sentimentos.
O luto é uma reação humana e representa a resposta à perda de algo ou de alguém. É um processo doloroso repleto de sentimentos que levam algum tempo a serem digeridos, este tempo depende da pessoa ou da situação em particular e, não deve ser apressado nem disfarçado com o uso de medicação. Resumindo, luto é uma tristeza profunda em resultado de uma perda.
Embora algumas pessoas discursam sobre a perda e demonstram um entendimento do assunto, a verdade mesmo é que nunca estamos preparados para perder uma pessoa querida.
Eu mesma já perdi mãe, pai, avô, avó (minha segunda mãe) e agora sogra, mas nunca é fácil lidar com a ideia de que você não os verá outra vez, não falará, não abraçará - pelo menos não nesse plano, não nessa vida.
Posso dizer que o sofrimento é individual, intransferível e que cada um lida com ele de uma forma singular.
Para mim, no início, o peso da saudade assombrava tudo que eu fazia.   Vivia um processo de lembranças constantes, presa à dor e às emoções, que muitas vezes, eram confusas. Guardei coisas, presentes, panos de prato, por exemplo, para não estragarem apenas porque a minha mãe ou a minha avó não poderia me dar novamente ou fazê-lo especialmente pra mim - como se isso fosse manter um pedaço delas comigo.
A perda nos obriga a reconstruir-se. É como se fosse um limite entre a vida que possuíamos antes e uma nova, diferente, sem o ente querido, sem o amor perdido.
Outro dia, vendo uma entrevista dada pela atriz Cissa Guimarães ela falava da perda do filho e sobre as  “5 Fases do Luto” e a necessidade de passar por cada uma. 
Ao pesquisar sobre o assunto, descobri que essas fases são resultado de um estudo sobre os efeitos da perda e o período do luto realizado pela psiquiatra americana Elizabeth Kubler-Ross. Elizabeth ressalta que tal processo se aplica a qualquer alteração significativa na rotina: a morte de um ente querido, uma doença grave, a separação de um amor, até o envelhecimento para algumas pessoas. Que as fases nem sempre ocorrem nesta ordem, nem todas são experimentadas pelas pessoas, mas afirmou que uma pessoa sempre passará pelo menos por duas destas fases. São elas:

1. Negação e isolamento -  é uma reação de resistência ao choque e à profunda dor. A pessoa se sente atordoada ou emocionalmente adormecida, o discurso baseia-se em “não, eu não merecia isso”, “porque isto aconteceu comigo?”.  É o início do luto, apego ao que se perdeu, algumas vezes chega até ver ou ouvir a pessoa perdida. Aqui muitas coisas perdem o sentido, e até as tarefas mais simples são difíceis demais de serem realizadas. A intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor.

2. Raiva - junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta e ressentimento. “Como pode Deus (ou a vida, ou o destino) fazer isto comigo?”. Acontece um período de grande agitação e ansiedade pelo que foi perdido. Quem sofre não consegue relaxar ou concentrar-se, o sono é alterado e o corpo está de prontidão para se defender de qualquer outra possível decepção.  Nesse estágio, todo o ambiente é hostilizado, a raiva pode se voltar tanto para uma entidade superior como também contra qualquer pessoa pelo ocorrido, incluindo a si mesma, médicos e enfermeiros, amigos e familiares que não foram úteis.
 
3. Barganha – nessa fase busca-se fazer algum tipo de acordo de maneira que as coisas possam voltar a ser como antes. Começa uma tentativa desesperada de negociação com a emoção ou com quem acha ser o culpado. Promessas, pactos e outros similares são muito comuns e muitas vezes ocorrem em segredo: “prometo ser uma pessoa melhor se ele voltar”,  “subirei as escadas da igreja de joelho”.
Outro sentimento comum é a culpa: pensar em tudo que não foi feito ou dito e que poderia evitar. Simplesmente, quem sofre não aceita que a perda está acima de qualquer controle. A culpa pode surgir inclusive, depois de sentir alívio pela morte de alguém que sofria, porque esse é o sentimento que serve como “culpado” nessa fase.
 
4. Depressão - nessa fase ocorre um sofrimento profundo. Tristeza, desolamento, culpa, desesperança e medo são emoções bastante comuns. O foco principal são as datas comemorativas (aniversário, ano novo etc.), povoadas de fortes lembranças provocando crises de choro, momentos depressivos, e o estado de agitação referido na fase da raiva e barganha é geralmente seguido de períodos de grande tristeza, isolamento e silêncio.  Esta mudança súbita de emoções costuma preocupar as pessoas próximas, mas é um estágio essencial para a resolução do luto, pois quem sofre faz uma análise mais franca de tudo que aconteceu e escolhe enfrentar o fato para recomeçar a sua vida.

5. Aceitação - nesse estágio a pessoa já não experimenta o desespero e não nega sua realidade. As emoções não estão mais tão à flor da pele e a pessoa se prontifica a enfrentar a situação com consciência das suas possibilidades e limitações. “Ok, não terei de volta, não há sentido em continuar assim”. Entenda que chegar nesse estágio não implica em “esquecer”, mas sim administrar a perda, lembrar com carinho sem o peso da dor.
Com o tempo, as fases são ultrapassadas gradativamente. A depressão chega ao fim e a mente busca novos assuntos. O sentimento de perda nunca desaparecerá por completo, mas sim administrado de forma que seja possível continuar, seguir em frente. A saudade é mais bem administrada, e o sobrevivente sabe que não terá o passado de volta, cabendo-lhe apenas retomar sua vida.

Hoje, a saudade ainda me assalta e dói. O que faço é administrar meus sentimentos, ciente de que essas perdas jamais serão reparadas e que só me resta seguir da melhor maneira possível. Não me obrigo a esquecer, muito pelo contrário, lembro sempre que quero, mas as lembranças não são mais um autoflagelo e sim, recordações de bons momentos.

Cristiane Santos
www.facebook.com/cricaps

p.s.: Hoje, um mês do falecimento da minha sogra.

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