Sempre tive pavor a coisas mornas. A romances brandos, a despedidas
sem lágrimas, dias bons sem fotos e a domingos assistindo Faustão. Sempre tive
horror a coisas práticas, a comidas instantâneas, a gente que só bebe
socialmente, a pessoas que não são claras no que sentem e que nunca choraram
vendo um filme.
Nunca
gostei de encontrar nada pronto.
Nunca
aceitei romances que não me fizessem sofrer ou chorar dias na despedida. Mais
do que acabar sozinho, eu tinha medo de acabar com alguém que não amava, apenas
por conveniência. Sempre tive preguiça de casais que não exalavam amor. Nunca
tomei como guia letras de músicas baianas que diziam aprender a gostar de quem
gosta da gente. E nunca estive disposto a ensinar ninguém a gostar de mim. Os
dois precisam gostar juntos. É assim que tem que ser o começo e não o fim.
Sempre
repugnei a idéia de ir a praia e não entrar no mar, de passar a vida inteira
sem um aniversário surpresa, de me acostumar a dormir cedo, de dizer perdão,
mas não sentir arrependimento, de adiar conversas. Diga-me que me odeia, mas
não me diga que depois a gente conversa.
Nunca
suportei gente sem ambição. Gente que ama e não diz. Gente que diz e não ama.
Gente que nunca amou. Gente que só aceita se for para sempre. Gente que não se
esforça para que seja para sempre.
Sempre
tive mais afinidade com pessoas que choram rios no fim de seus relacionamentos
jurando que odiariam romances dali pra frente, mas que algumas semanas depois estavam
assistindo comédias românticas torcendo para um final feliz.
Tenho
fobia de pessoas que não mandam cartas. Mesmo que não seja boa com palavras.
Fobia a pessoas que acham que só amamos uma vez na vida, mesmo que seja
diferente.
Mais
do que bom humor, sempre admirei pessoas ousadas. Que não se permitiam ter a
mesma vida eternamente, nem morar no mesmo lugar a vida toda. Mesmo que fosse
para voltar dizendo que não deu certo.
Medo
de ser como os que desistem fácil.
De
gente que prefere não ter a perder. De gente que só aposta no amor quando ele
está ali pronto e fácil. Que chama de precipitado quem se entrega de primeira e
chama de maluco quem aposta em um romance a distancia. Como se a geografia
fosse mais importante que os sentimentos. Ou anestesiados pelos sofrimentos da
vida ou por nunca terem gostado de alguém de verdade. Vivendo um romance por
praticidade, jurando que seja amor.
Vinícius
D'Ávila
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