Acordei com palpitações. Abri o olho, mas não conseguia enxergar, sinal de
que ainda era noite. Passei levemente a mão pela testa, percebi que o suor
gelado escorria até o travesseiro. Lembrei de Newton, lembrei da força da
gravidade, qual seria a força da minha reação?
Ao menos o motivo de estar acordada àquela hora eu sabia, até mesmo porque,
a resposta não saía da minha cabeça, ficava lá, me perturbando. Nada além da
realidade. Sim, a realidade, que estava me transformando. Ou seria a vida em
si? Ah, é tudo a mesma coisa! Ela exige tanto da gente, não é mesmo? Afinal,
com quem estou conversando? Isso é uma conversa ou não passa de um monólogo
interior? Nem mesmo consigo ouvir minha voz. Devo estar louca.
Um som começa a chegar aos meus ouvidos, percebo que a vibração da membrana
timpânica move o osso martelo, que faz vibrar o osso bigorna que, por sua vez,
faz vibrar o osso estribo, onde sua base se conecta a uma região da membrana da
cóclea que comunica a vibração ao líquido coclear. O movimento desse líquido
faz vibrar a membrana basiliar e as células sensoriais. É como se não sentisse
mais nada. Esqueço tudo e fico a imaginar as ondas sonoras propagando-se pelo
ar, será que estão na velocidade de 340m/s? Na verdade, gostaria de estar
acompanhando as luzes em suas viagens pelo espaço, o vácuo parece-me
aconchegante, pensando melhor, nem tanto, a pressão, ou sua ausência, nem sei
mais do que estou falando...me destruiria de vez, aqui ainda tenho a chance de
refletir antes de me definhar. Então elas aproximam-se dos meus ouvidos. Fecho
os olhos e começo a sentir, apenas sentir.
Músicas dizem tanto e eu não consigo compreendê-las. Minha intuição diz que
são sinais, luzes ao fim do túnel, mas que eu fui impedida de alcançar, algo me
segura no meio do caminho. Não é uma corda de massa desprezível, e o atrito já
é cinético, estou em alta velocidade. Algo me carrega para longe do fim. Se
fosse num plano cartesiano diria que são retas concorrentes, no sentido conotativo,
se é que faz algum sentido falar em conotação e denotação diante de tais
circunstâncias.
O trem partiu. A aceleração dele foi maior que a minha. Permaneci estática,
a força peso foi maior que minha força de vontade em seguir em frente. Fiquei. Sozinha.
Com lágrimas nos olhos. Sentada no banco repleto de vitamina S, como diria
minha mãe. Acontece que não sou mais criança, e agora, o que menos importa é a
falta ou a presença de anticorpos e vitaminas no meu corpo. Impregnada com o
cheiro de fritura dos pasteis de vento. E o vento, esse trazia até as minhas
narinas as impurezas que os cigarros detêm. Continuo na estação. Perdida, ou a
espera, quem sabe? Meu cristalino, totalmente delgado, enxergando o que tem
mais distante de mim.
Os canais semicirculares do meu ouvido interno já não permitem a percepção
da posição do meu corpo. Deitada sobre jornais, num chão gelado e úmido talvez.
Percebo que não estou sozinha, há uma multidão a minha volta, alguns tentam me
dar a mão de apoio, outros choram, uns passam correndo como se estivessem a
correr da realidade, tem aqueles sorridentes que por dentro estão desmoronando,
como também tem os que são felizes por benção de Deus, os falsos, insolentes e
maus sempre existirão, portanto, prefiro abster-me de comentar sobre eles. De
qualquer forma, alguém estava faltando naquele lugar. E Deus, sempre existirá?
Quem é capaz de garantir que ele não nos abandonará?
-->http://apausadamente.blogspot.com.br
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