Hoje, percebi que meus amigos íntimos estão mais do que
certos quando dizem que eu visto a máscara de forte mas, no fundo sou tão
frágil quanto uma borboleta tentando sair do casulo.
Ao longo da vida passamos por inúmeros momentos, os quais,
muitas vezes, nos fazem criar uma máscara para não passarmos a real expressão
que há em nosso interior. Isso pode ser bom, ou não. Só depende de nós sabermos
administrar nossos sentimentos, como também aprendermos a discernir entre o que
é máscara e o que é verdadeiro, o que devemos mostrar e o que devemos esconder,
e quando. Não significa que somos falsos ou fracos, significa apenas que mesmo
inconscientemente encontramos algumas maneiras de fuga do que não nos é
conveniente.
Com certeza alguns acontecimentos me fizeram
"inventar" essa máscara de "sou forte" - desde a infância -
e outros contribuíram para que ela continuasse - ainda há 5 minutos. Posso
dizer que ela já me livrou de constrangimentos e simultaneamente me deu força,
ao contrário, já me fez magoar outras pessoas, sofrer interiormente sem
entender ao certo o porquê. As máscaras não são construídas sem motivos bem
embasados, contudo, também não são sustentadas se não houverem outras fortes
justificativas.
Acima de tudo, o problema está no quanto nos escondemos por
detrás dessas máscaras. Por vezes, eu sentia que o fardo era maior do que eu
poderia carregar, e mesmo assim continuava com aquela cara de "sorria e acene"
para todos a minha volta. Agora, me pergunto: qual a necessidade de agir assim?
Sinceramente, não sei. Tudo não passa de mistérios da vida, do nosso cérebro,
nosso maior protetor (junto de Deus, para pessoas, que assim como eu, ainda
creem). Por mais que estivesse sofrendo, poucas eram as pessoas que reparavam
os sinais de que algo estava errado comigo. Mesmo assim, eu continuava a
sustentar não só as minhas dores, como também as dores de todo o mundo. Sabe
aquela frase que quando um amigo chama, você esconde sua dor e para para ouvir
a dele? Sempre agi assim, e poucas vezes eu era o amigo que chamava. Tanto fora
quanto dentro de casa, tanto entre amigos e desconhecidos quanto entre
familiares, sempre foi assim, até eu desabar. Aos poucos, mas desabei. Extrapolei e
liberei todos os sentimentos que estavam adormecidos ou guardados lá no fundo,
e assim, por vezes, exagerei como não devia. Fiz terapia e aprendi um pouco
mais a lidar com essas máscaras enrustidas de falsos sentimentos, passando a
ideia de "falsos eu" ao mundo a minha volta. E, digo com conhecimento
de causa, não é nada fácil aceitar nossos sentimentos mais profundos e
verdadeiros, até mesmo porque, já estamos acostumados e treinados com as
máscaras, elas nos parecem tão fáceis de serem usadas, trocadas, amenizam tão
bem as dores... Porém, nunca paramos para pensar até que ponto isso nos é
saudável. Descobri que momentaneamente ela cura, no entanto, é uma cura muito
superficial, uma fina crosta irregular, que a qualquer momento pode ser arrancada
e sinalizar algo mais profundo e doloroso.
Foi só quando um amigo me disse: "havia tempos que não
te via tão frágil", que eu percebi que aprendi bastante coisa nesse meio
tempo. Descobri que aos poucos estou conseguindo abdicar da minha máscara de
"sou forte" e, ao mesmo tempo, aceitando que os outros cuidem de mim,
não só eu deles, que eles me acolham, me abracem, e demonstrem o afeto que
existe dentro de nossos corações. Ou seja, o treinamento tem surtido efeito,
também estou aprendendo a receber os sentimentos. E isso é bom, o calor humano,
mesmo que expressado através de um telefonema, é de grande efeito para uma alma
sedenta por atenção, acolhimento, compreensão e carinho.
Descobri que não é errado aceitar e assumir o fato de
sentirmos algo, principalmente, de nos sentirmos frágeis, afinal, qual ser
humano nunca passou por momentos assim? E, como uma borboleta, podemos, aos
poucos, por etapas e com o apoio de outros componentes, chegar aos nossos
objetivos, conseguir sobreviver e voar livremente, com uma verdadeira estampa
no rosto, que pode ser colorida, ou não, entretanto, sempre verdadeira, desde
que estejamos de bem conosco e com o mundo. Se hoje chorei, mesmo por motivo
que não merecia, uma lágrima sequer ou apenas bobo, é porque algum sentimento
havia dentro de mim, e a forma que encontrou de se/me libertar foi a lágrima,
que na sua forma mais genuína e sublime me fez entender alguma das
transformações que vêm ocorrendo com o bater de asas da borboleta.
Enfim, é melhor parar por aqui, antes que os sentimentos
aflorem demasiado e o texto torne-se mais pessoal do que já está e prolongue-se
por longas páginas. Mais uma vez, uso a escrita como uma válvula de escape ou
maneira de organizar meus pensamentos, agora, só espero que vocês o recebam de
braços abertos e, por que não, troquem um pouco de experiências, pois é assim
que vamos crescendo, e sempre é tempo de crescer, sempre é tempo de mais uma
borboleta sair do casulo!
Texto de Letícia Cunha
http://apausadamente.blogspot.com.br/2012/06/fragil.html
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